O trabalho dos descendentes na formação de Vargem

Capitão João Pinto Fontão, descendente de José Garcia Leal

Edificar uma cidade é um trabalho a longo prazo, com a participação de todos os seus moradores, cabendo a cada cidadão uma tarefa específica conforme sua formação, suas peculiaridades, sua inserção na vida social e política do município onde mora. O Clã Garcia Leal deixou centenas ou milhares de descendentes nestes 150 anos de fundação do município, mas houve alguns que se destacaram na contribuição ao município.
A Família Fontão foi uma delas. No livro que fala sobre os Garcia Leal, na página 121, 2ª Edição do “Clã Garcia Leal” de autoria de José Osvaldo Garcia Leal, está a biografia de Placidina Leal, quarta filha do casal José Garcia Leal (que vinha a ser o 6º filho do sargento mor José Garcia Leal) e Maria Ignácia de Abreu Lima.


Placidina Leal foi batizada em 15 de abril de 1846, em São João da Boa Vista e casou-se com o capitão João Pinto Fontão, natural de Sorocaba, nascido por volta de 1831 e falecido em 10 de setembro de 1901, em São João da Boa Vista. Ela faleceu em 12 de janeiro de 1919.
Dentre os sete filhos do casal, estão o capitão João Pinto Fontão e o major Antônio de Oliveira Fontão que tiveram importante papel no desenvolvimento de Vargem, quer atuando como agricultores, como políticos ou no desenvolvimento econômico na cidade. Eles estão entre os considerados “patronos” da emancipação política de Vargem Grande do Sul, quando esta deixou de pertencer a São João da Boa Vista em 1922.
No livro “História da Câmara Municipal de Vargem Grande do Sul”, cita que o capitão João Pinto Fontão foi vereador e presidente na época da Vila de Vargem e também dirigente do Partido Republicano por mais de 30 anos, até a Revolução de 1930, quando Getúlio dissolveu os partidos. Cap. João Pinto Fontão era tido como o grande comandante político da época, no apogeu da cultura do café, sendo considerado um mediador e conciliador em todos os grandes momentos do município no início do século XIX.


Nascido em São João da Boa Vista em 30 de março de 1868, seu pai, o capitão Antônio Pinto Fontão era fazendeiro, provavelmente nas terras herdadas por sua esposa Placidina Leal, que vinha a ser neta do sesmeiro sargento mor José Garcia Leal. Também seu pai fora tropeiro e político conceituado, ocupando o cargo de vereador em São João da Boa Vista.
Toda essa bagagem política, fez do capitão João Pinto Fontão, casado com Maria Cândida de Andrade Fontão, um dos principais dirigentes políticos da época. Além de fazendeiro, o capitão foi proprietário do jornal A Imprensa e também fundou a Casa Bancária J.P. Fontão & Cia, primeiro estabelecimento bancário de Vargem.


Ele faleceu em 16 de janeiro de 1934, aos 65 anos de idade, em Vargem Grande do Sul, sendo seu nome denominado por decisão dos interventores nomeados para o município na época da ditadura Vargas, à principal praça da cidade, que hoje leva o nome de Praça Cap. João Pinto Fontão.
Foi pai de José de Andrade Fontão, que foi eleito vereador, presidente da Câmara Municipal e prefeito municipal entre 1929 e 1930. “Dono de grande fortuna e homem generoso, doou a Vargem Grande vários terrenos para áreas institucionais, como parte do terreno para a construção da Escola Benjamin Bastos, e toda a área da Estação de Tratamento de Esgoto do Pacaembu”. Também doou área na parte alta do atual Jd. Morumbi para a Igreja de Sant’Ana, vendida depois.
Outro importante político filho dos descendentes do sesmeiro José Garcia Leal, foi o major Antônio de Oliveira Fontão, que exerceu os cargos de vereador, presidente da Câmara Municipal sanjoanense e subprefeito da Vila de Vargem Grande do Sul de 1914 a 1915. Eram seus pais o capitão Antônio Pinto Fontão e dona Placidina Leal, sendo ele nascido em São João, aos 17 de fevereiro de 1864 e falecido em 7 de julho de 1916, aos 52 anos de idade. Foi pai de Antônio Oliveira Fontão, que foi vereador e prefeito entre 1924/1927 e José de Oliveira Fontão, vereador e presidente da Câmara Municipal.

“Eles, os fundadores, teriam orgulho da Vargem de hoje”

José Márcio Fontão, neto do capitão João Pinto Fontão

Na série de entrevistas que o jornal Gazeta de Vargem Grande fez junto aos descendentes dos fundadores de Vargem Grande do Sul, está José Márcio Machado Fontão, 78 anos, neto do capitão João Pinto Fontão, casado com Regina Célia Junqueira Anadão Fontão e pai de Sérgio Anadão Fontão.
Seus pais eram João Pinto Fontão Junior e Lourdes Machado Fontão, cujos pais era o capitão João Pinto Fontão e dona Maria Cândida de Andrade Fontão, filhos do capitão Antônio Pinto Fontão e a neta do sesmeiro José Garcia Leal, dona Placidina Leal.
Márcio cita que no começo de Vargem Grande do Sul, a família Fontão teve um papel muito importante, dado o número de políticos da família que ocuparam os principais cargos executivos e legislativos no início do século passado.


Lembra de algumas histórias que lhe foram passadas oralmente dos antigos descendentes, como a de seu avô capitão João Pinto Fontão que era músico, e ia duas vezes por semana a cavalo até São João da Boa Vista tocar na banda da cidade vizinha. “Ser músico, tocar na banda naquela época, era um diferencial, sofisticado”, explica.
Ao ser indagado sobre o título de capitão que seu avô sustentava, Márcio argumentou que o mesmo foi concedido ao mesmo pelo governo federal por volta de 1904 e hoje se encontra na Casa da Cultura de Vargem Grande do Sul. Os capitães tinham alguns deveres, como o de manter e defender a ordem nas antigas vilas e povoados.


De seu avô, lembra que era um homem austero, agricultor, produtor de café, chegando a ter na época uma grande produção cafeeira na Fazenda Ribeirão Preto, onde ainda existe a sede da fazenda e está em nome de familiares descendentes do capitão.
Uma construção suntuosa, típica da época áurea do café, terminada em 1903, com 66 casas de empregados na fazenda, centrada na produção de café, que teve seu apogeu até 1929, quando veio a grande crise da bolsa de valores de Nova Iorque, também conhecida como “A Grande Depressão”, que atingiu o mundo todo, principalmente a exportação do café brasileiro.

Lembra que a casa do capitão era onde hoje está o prédio do hotel municipal, na esquina da Praça da Matriz, que foi homenageada com o nome do seu avô, a Praça Capitão João Pinto Fontão, depois que ele faleceu. Logo ao lado, também na esquina, onde hoje é o Bar do Gaúcho, foi durante muito tempo, a Casa J. P. Fontão & Cia, por ele fundada. “Toda a fortuna veio do café”, ressaltou Márcio Fontão.


Indagado sobre como se sentia sendo descendente dos fundadores de Vargem Grande do Sul, José Márcio Machado Fontão afirmou: “A gente se sente muito orgulhoso pela obra que eles fizeram, a contribuição que deram para o surgimento e crescimento da cidade”.
Ao ser perguntado se também os fundadores de Vargem Grande do Sul se sentiriam orgulhosos da cidade atual, Márcio Fontão foi enfático: “Não tenho dúvidas que Vargem hoje, quando completa 150 anos, faz jus aos seus fundadores. Acho que eles teriam muito orgulho do que Vargem Grande do Sul se tornou”, afirmou.

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