Tadeu Fernando Ligabue
A questão da demolição de alguns prédios antigos de Vargem Grande do Sul merece uma boa discussão e tem reflexos no próprio desenvolvimento da cidade. Alguém por acaso têm ideia de como será Vargem Grande do Sul daqui a 50 anos? E eles passam voando.
O que será que vai atrair pessoas para uma cidade como a nossa, pequena, que certamente não irá crescer tanto como em décadas anteriores, quando de 20 mil habitantes lá pelos anos 80, em uma década cresceu 10 mil habitantes, passando para 30 mil habitantes e no último Censo, em 2022, em uma década mal cresceu em mil habitantes, estacionando na casa dos 40 mil habitantes. Algo que ocorre em todo o Brasil.
No meu modesto ponto de vista, foi-se o tempo de grandes indústrias virem para pequenas cidades como a nossa, se é que ele existiu de fato. Essa é uma realidade e temos de trabalhar com ela. Daqui a algumas décadas, o conceito de trabalho, que já está mudando, deve ser totalmente diferente.
A robotização, as novas tecnologias, a inteligência artificial vão mudar tudo. A transformação ambiental deverá ter um peso enorme nas decisões das pessoas que deverão definir para onde vai querer morar. Será que teremos água suficiente para todo mundo?
Que tal se neste futuro não tão distante, Vargem se tornasse uma cidade acolhedora, bonita, bem urbanizada, com muito verde, água em abundância, praças bonitas, bem cuidadas, segurança, atraindo pessoas que vão trabalhar em suas casas, prestando serviços à distância, querendo qualidade de vida que os grandes centros não vão oferecer.
É só um palpite e neste contexto, preservar o patrimônio histórico fará toda a diferença. Quando falamos em preservar o patrimônio histórico não nos referimos somente a casarões. Por exemplo, sem uma lei que defina o que deve ou não ser preservado, perdemos a antiga estação ferroviária da cidade que foi demolida.
Certamente para muitas pessoas, qual a importância de uma pequena estação de trem que só foi construída pela determinação de uma elite cafeeira da cidade que naquela época pensava no desenvolvimento do município, na geração de emprego e renda e quanto foi importante a demonstração de força e união de todos os cafeicultores para construir a linha férrea. Um exemplo, que no pensar de muitas pessoas, deve ser varrido para debaixo do tapete, ou simplesmente demolida. Povo sem história…
Não é mimimi. Vai um pouco mais além, é pensar no futuro com inteligência. A lei é necessária não só por causa dos casarões, mas de muitos outros bens que precisam de proteção e sem uma lei, todo mundo fica inseguro, inclusive os investidores. Uma lei moderna, sem exageros, bem elaborada, que só vem a acrescentar à cidade e preservá-la para o futuro que pode ter inúmeras variáveis, inclusive esta que eu descrevi acima.
Certamente Vargem Grande do Sul não será uma cidade satélite de São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo ou Casa Branca, como algumas pessoas mencionam. Em 100 anos deixamos de ser um bairro como Pedregulho para nos tornarmos a quarta cidade da região de São João da Boa Vista, que tem 16 municípios. Passamos inclusive Espírito Santo do Pinhal.
Então este pensamento pequeno, um verdadeiro complexo de vira lata, leva as pessoas a não verem o potencial que Vargem Grande do Sul tem, que fica martelando que qualidade de vida só se atrai com grandes empresas vindo para cá. É lógico que o poder público municipal tem de olhar este lado de trabalhar a vinda de novas empresas, mas apostar todos os cacifes nesta área, é não olhar outras riquezas que poderão ser exploradas com mais sucesso não só no presente como e principalmente no futuro.
Termos um parque linear margeando o Rio Verde, interligando todas as represas, vai ser um patrimônio que muitos poucos municípios na nossa região poderão desfrutar e quanto valerá isso em um futuro não muito distante. Mas, o que tem os casarões, a história da cidade, seu passado, a cultura preservada por seus habitantes com tudo isso?
Será que em questão de urbanismo, uma cidade acolhedora, que preserve a sua história, não seria importante para atrair pessoas com mais poder aquisitivo para alavancar o desenvolvimento da cidade? Vargem Grande do Sul se destaca pelo comércio e prestação de serviços, que são mais de 60% da geração de riquezas e empregos na cidade, deixando a uma boa distância a indústria e o agronegócio, segundo dados do IBGE.
Não seria esta de fato a vocação da cidade. A prestação de serviços? E como atrair pessoas capacitadas para morar na cidade e prestar serviços via internet (só um exemplo) para o mundo todo? Não seria investir no urbanismo da cidade? O que certamente envolve a preservação do seu patrimônio cultural e histórico.
Seria isso mimimi ou pensar grande, com responsabilidade, com inteligência e capacidade de se antecipar ao futuro que está logo adiante e deixar que outros municípios tomem esta dianteira e aí sim, ficarmos a reboque de outras cidades da região. Daí a importância de nossos legisladores, no caso os vereadores, e outras lideranças políticas, no caso o prefeito, pensarem, discutirem e aprovarem uma lei de preservação do patrimônio histórico e cultural de Vargem Grande do Sul.