

Um vargengrandense que está residindo com sua família nos Estados Unidos há poucos anos, relatou em conversa com a redação do jornal Gazeta de Vargem Grande, as preocupações dos brasileiros que não estão legalizados no país americano e sofrem nos dias atuais com a nova política de deportação do presidente Donald Trump.
Trump tomou posse este ano e colocou em ação uma ofensiva anti-imigração que tem como meta reprimir e extraditar estrangeiros sem a devida documentação no país, como é o caso do vargengrandense que por razões de segurança, o jornal está omitindo seu nome.
Ele trabalha no setor de construção civil, alugou uma casa, seus filhos vão à escola, a esposa trabalha em casa prestando serviços na área de beleza feminina, onde conseguiu autorização do Estado para prestar este tipo de trabalho e um dos seus filhos nasceu nos Estados Unidos. Mesmo fazendo declaração de renda, pagando em dia a prestação do seu carro, ele não se sente seguro na atual política de Trump, caso seja abordado pela polícia ou membros do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas) e não consiga comprovar que tem a documentação que permite sua permanência nos Estados Unidos.
Como milhares de brasileiros, ele saiu de Vargem com a família e entrou legalmente nos Estados Unidos como visitante, mas com a intenção de ficar por lá, trabalhar, constituir família, se juntando com alguns parentes em uma comunidade que já estavam há mais tempo no país americano, cuja história e população é formada por imigrantes do mundo todo desde sua fundação.
Segundo noticiado, quase 1,5 milhão estão com sentença de deportação dos Estados Unidos, sendo que deste total, 38 mil são brasileiros e na semana passada, uma leva deles já chegou ao Brasil deportados e algemados, gerando grande repercussão em toda a mídia nacional pelas condições que foram tratados na viagem.
São pessoas que feriram a lei de imigração americana, e já tiveram o processo analisado por ao menos um juiz americano. Uma pesquisa aponta que em 2022 eram 11 milhões os imigrantes em situação irregular nos Estados Unidos e deste total, cerca de 230 mil saíram do Brasil, como o caso do vargengrandense. O Itamaraty calcula que existam cerca de 2 milhões de brasileiros atualmente no país de Trump, sem especificar o status legal destes cidadãos.
Pelo que pode verificar a reportagem do jornal assistindo post de brasileiros nos Estados Unidos, o conselho é que todos que estão trabalhando honestamente, sem problemas com a Justiça americana, e sem ordem de deportação, permaneçam pelo menos nestes primeiros 100 dias da administração Trump, em casa, o mais reservado possível, pois o ICE está neste primeiro momento caçando quem tem sentença de deportação e caso nas investigações tenha algum brasileiro por perto e seja abordado, mesmo não estando na lista de deportados, mas sem os devidos documentos, seguem grande risco de serem presos e enviados de volta ao Brasil.
“O governo de Trump vai fazer uma grande pressão para que estes imigrantes fiquem com medo de permanecer nos Estados Unidos e tomem a iniciativa de voltar ao Brasil, por conta própria, pois o governo americano teria de gastar um volume enorme de dinheiro para realizar a deportação em massa que Trump apregoa. Então, é ficar quieto, ter calma e esperar os primeiros meses para ver inclusive como os outros poderes da democracia americana vão reagir, principalmente o Poder Judiciário”, foi o argumento que o jornal teve acesso.
Este também é o pensamento do vargengrandense. Trabalhar, permanecer o máximo em casa, ter paciência e resiliência. Ele não quer voltar ao Brasil. Quer se tornar cidadão americano e que seus filhos desfrutem de tudo que o país mais rico do mundo pode oferecer. Caso isso não venha a ocorrer e por uma fatalidade ele e sua família, a esposa e dois filhos pequenos, forem deportados, volta ao Brasil, mas já tem planos de ir morar em outro país, quem sabe no Canadá, onde as regras para imigrantes não são tão rigorosas, estão aceitando quem fale inglês e cuja mão de obra esteja sendo requisitada, como é o seu caso.
Imigrante relata apreensão e também esperança
A pedido a Gazeta de Vargem Grande, profissional que migrou com a família para os Estados Unidos em busca de oportunidades, enviou por escrito um relato sobre como está o clima entre a comunidade estrangeira no país, a apreensão dos últimos dias e conta que segue focado em trabalhar e garantir um bom futuro para seus filhos. Segue o texto:
“Moramos desde 2019, temos um filho nascido no Brasil e outro nascido nos EUA. Trabalhamos na área da construção Civil, com projetos e materiais totalmente diferentes do Brasil.
Pagamos impostos normalmente pois mesmo estando sem “status” você deve pagar impostos e eles te fornecem um número de TAX ID, que é quase o que diríamos ser semelhante ao “CPF”, Um cadastro de pagador de imposto, este que se a pessoa que paga se torna “legal” no país entra como pagamento como se fosse a aposentadoria. Agora, se a pessoa paga e não se legaliza e vai embora, esse dinheiro pago de imposto fica nos cofres do governo, vamos assim dizer, o Social Security.
O dia a dia de uma pessoa que entrou e vive dessa forma é de muita luta e trabalho, saímos cedo e muitas vezes tardamos para chegar em casa. Às vezes, trabalhamos de domingo a domingo no verão quando conseguimos e às vezes, no inverno diminui, pois é um pouco mais devagar as obras, já que o frio é intenso. A recompensa disso é não se preocupar com quanto vai gastar no mercado, ter aquela roupa que gosta, sair para comer fora e bem e ainda conseguir fazer planos futuros e dar uma qualidade de vida para os filhos.
Uma pessoa que chega aqui, costuma ganhar no mínimo US$ 15,00 a hora e conforme vai se profissionalizando vão pagando mais. Tenho uma empresa aberta no meu nome e minha esposa, licença de trabalho no ramo de atividade dela, fornecida pelo estado.
Mas tudo tem uma contrapartida, apesar de estar trabalhando e tendo uma vida normal com os filhos na escola, sendo atendidos por hospitais normalmente temos sempre um dilema a lidar, a Imigração.
Vou descrever como foi no meu ponto de vista imigratório, os últimos 4 anos antes de Trump entrar. Biden deixou as fronteiras meio que abertas ao público. Entravam pessoas que, com certeza, buscavam melhorar a vida como muitos tentam, mas também entraram pessoas com má fé e que não ligam em cometer crimes neste país. Inclusive, a Imigração busca investigar pessoas ligadas ao terrorismo, tráfico humano e outros crimes, por terem entrado nessa brecha de fronteira. O dia a dia era bem tranquilo, mas mesmo assim, haviam deportações, estando aqui nunca vi nada do que está acontecendo agora.
Trump fala muito em deportar e que tem que mandar imigrante embora, mas o Obama deportou muito mais e ele nem falava nada sobre isso como o atual presidente fala. Esse é um dos motivos de que ele esteja perseguindo os imigrantes, são todos que estão nessa condição de ter passado o tempo do visto que estão na mira deles? Não sabemos ao certo até o presente momento, pois o que está sendo dito até mesmo pelo próprio Diretor do ICE (Immigration and Customs Enforcement) é que apenas os imigrantes com algum tipo de delito que estão sendo procurados.
Quem ultrapassa o visto é criminoso? Não. O que pode acontecer é a pessoa estar na hora errada e no lugar errado e acabar sendo deportada junto com o que cometeu crime. Pode ser que essas ações cheguem até essas pessoas que apenas ultrapassaram a data de validade do visto? Sim, pode ,mas por enquanto tudo é em busca do criminoso, pois para eles deportar sai muito caro.
Essas ações estão deixando os imigrantes de todas as comunidades daqui sem sono, algumas nem estão indo ao trabalho, pois eles chegam sem avisar. Com tudo isso, algo que ninguém consegue controlar, buscamos sempre estarmos atentos e um pouco precavidos do que pode acontecer conosco. Uma das possibilidades que muitos que vivem dessa forma pensa em fazer é buscar o visto canadense, pois todo o trabalho feito nos EUA pode ser aproveitado no Canadá, país onde há também uma oportunidade de trabalho pois é a mesma forma de trabalho que nos EUA.
Eis que você quem está lendo se pergunta, então por que você está correndo esse risco não muda direto para o Canadá? Não mudamos porque simplesmente não é fácil sair do país onde você já tem sua cultura, tem seu modo de alimentar, de comunicar, de trabalhar e recomeçar a vida do zero e simplesmente mudar para um outro país e recomeçar tudo de novo.
Eu, como todos os outros imigrantes que não têm problemas com a Justiça, tanto americana quanto a brasileira, esperamos que depois de toda essa deportação, haja uma oportunidade para aqueles que querem o melhor para os filhos e a família de ter esse ajuste de Status imigratório.