Marina Lima lança livro Notas da Mamãe Morrente

Marina Lima lança o livro na quinta-feira, dia 15. Foto: Arquivo Pessoal

Na obra, a escritora vargengrandense emociona ao falar sobre a morte de seu filho Leon, de 3 anos, o luto e como encontrou na escrita alento e o propósito de ajudar

Como viver a dor terrível de perder um filho com apenas 3 anos de idade? Em seu livro Notas da Mamãe Morrente, a vargengrandense Marina Lima de Souza, filha mais velha da advogada Leila e do dentista João Vicente de Souza, relata toda a sua dor, seus questionamentos, a busca por um sentido diante do sofrimento inenarrável ao perder seu filho Leon.
Muitos vargengrandenses conhecem Marina, seus pais e suas irmãs, e se uniram em oração a cada vez que Leon precisava se submeter a um novo tratamento, uma nova cirurgia ou mais um longo período de internação. Em seu livro, que será lançado nesta quinta-feira, dia 15 de maio, em São Paulo, Marina expõe toda sua fragilidade e fortaleza, todo seu processo de luto e como ressignificou muitos conceitos e lugares para encontrar alento e honrar Leon com seu amor imenso de mãe, que desafia a finitude da vida e transborda em suas palavras.
Leia a seguir a entrevista que Marina concedeu à Gazeta de Vargem Grande e veja também na próxima página, o emocionante prólogo de Notas da Mamãe Morrente.

Gazeta de Vargem Grande: Difícil ler o prólogo e não ser tocada pelas suas palavras. E mais difícil ainda tentar encontrar perguntas para uma entrevista que tem como origem algo tão absurdamente doloroso. Por isso, acho que gostaria de começar perguntando sobre como foi o caminho que levou à escrita do livro?
Marina Lima: A escrita foi um dos meus refúgios durante o longo adoecimento do meu filho e não foi diferente depois da morte dele. É como se a escrita fosse um dos tantos braços da rede de apoio que me manteve de pé num período de medo, tristeza, incerteza, impotência. Fazia quatro meses que eu havia me mudado com o Leon de Vargem para São Paulo, quando, de repente, uma doença rara e gravíssima, como as médicas sempre faziam questão de dizer, assolou a nossa vida feito um tsunami. A escrita foi fundamental para manter a minha sanidade mental, era onde eu podia extravasar as minhas emoções, elaborar a minha dor, exercitar a esperança e depositar até mesmo os pensamentos mais inconfessos. Nos seis meses sucessivos à morte do Leon, eu escrevi obsessivamente, todos os dias. Aí, quando percebi que poderia conversar com pessoas que vivem processos de luto parecidos, que podem ser extremamente solitários, e por isso ainda mais dolorosos, eu entendi que poderia transformar essas palavras num livro. Hoje eu sei que, quando perdemos alguém que amamos muito, nós precisamos falar, nós queremos falar, e muitas vezes não encontramos espaço, as pessoas, por mais que queiram ser solidárias, não entendem que precisamos falar. Então, esse livro é um jeito de falar, de trazer alento para quem vive um luto, de saber que podemos transformar a dor em amor, que a vida quer isso da gente, a humildade para nos transformarmos o tempo inteiro porque nada é permanente. Acho que só pode ser permanente o nosso compromisso de querer sair dessa vida melhor do que chegamos.

Gazeta: Sua família é muito querida em Vargem Grande do Sul. Na cidade, houve muitas mobilizações de orações para o Leon e também uma comoção muito grande com sua morte. Aos vargengrandenses que forem ler seu livro, o que você gostaria que soubessem antes da leitura?
Marina: Primeiramente, eu gostaria de agradecer, em nome do meu filho e de toda a minha família, pela gigantesca corrente de oração que uniu a cidade. Eu fico muito comovida e nutro um sentimento de gratidão eterna. Isso é o verdadeiro sentido de comunidade que o Papa Francisco lutou tanto para resgatar e que anda esquecido em tempos de intolerância, de acumulação desenfreada e de culto ao ego. Foram muitas manifestações de carinho, recebemos visitas, colo para chorar, ombro para nos amparar, mãos para nos reerguer porque, como também dizia Francisco, oração sem ação é um grande vazio. Eu gostaria de fazer um agradecimento especial… em novembro de 2021, o Leon teve uma diarreia, eu precisava entregar um trabalho importante no final daquela semana e, como eu não poderia mandá-lo para a creche com diarreia, viemos para Vargem. Dois dias depois de chegarmos aqui, ele parou de fazer xixi. Fomos ao pronto-socorro em São Joao da Boa Vista, onde descobriram que os exames de sangue dele estavam bastante alterados: ele precisaria de uma internação urgente numa UTI pediátrica e não aguentaria chegar a São Paulo. O primeiro hospital da região que aceitou a internação fica em Poços de Caldas. Quando a Ana Laura Melchiori soube disso, ela imediatamente ofereceu um apartamento na cidade para que nos hospedássemos ali sem custos. Nós ficaríamos um mês em Poços até a transferência do Leon para São Paulo. Eu nunca vou me esquecer desse gesto de extrema generosidade, por isso, gostaria de agradecê-la publicamente.
Quanto ao conteúdo do livro, eu falo bastante sobre Vargem, afinal, foi onde o Leon viveu grande parte da sua vida saudável. Eu me separei do pai dele no começo da gestação (aliás, muitas pessoas tinham curiosidade sobre o paradeiro do pai dele, e eu conto tudo no livro pormenorizadamente), aí veio a pandemia. Naquele momento de incerteza e de lockdown, eu entendi que seria mais prudente parir no interior e ficar com o meu bebê na casa dos meus pais até as coisas se normalizarem. Toda vez que eu volto pra Vargem, eu vejo o Leon impregnado em todo lugar, em cada cantinho de casa, na praça do Benjamin, no bosque, na rua do Comércio, na igreja Matriz. Sinto um misto de emoções, no início predominava a melancolia, mas, graças a Deus, hoje eu consigo me proteger da tristeza porque, se a gente não toma cuidado, ela drena a nossa energia para uma espiral de negatividade que pode ser muito perigosa. Hoje, apesar da saudade, eu consigo sentir paz quando visito os lugares onde ele foi tão feliz em sua breve vida.

Gazeta: “Notas da Mamãe Morrente” será lançado em 15 de maio, poucos dias depois do Dia das Mães, que é celebrado em 11 de maio este ano. Muitas mães estão atravessando ou convivem com o luto pela morte de um filho. O que você gostaria que elas ouvissem nesse dia?
Marina: Eu gostaria de poder abraçar todas as mães que passam pelo luto da perda de um filho e, de alguma forma, eu faço isso mental e espiritualmente todos os dias. Acho que poucas pessoas discordariam que perder um filho é a maior dor do mundo. Porque é antinatural, a gente espera que os mais velhos partam antes dos mais novos. Mas não adianta de nada ruminar esses pensamentos, ao mesmo tempo, é inevitável fazê-lo. Faz parte do mistério da vida, e nós vamos morrer com certos questionamentos. No começo, quando me falavam que Deus dá as cruzes mais pesadas para os melhores guerreiros, eu queria gritar de raiva. Eu não queria ser uma boa guerreira, não queria essa cruz! Acho que ninguém iria querer, na verdade. São tantos planos, sonhos, um caminho pela frente ceifado precocemente. Mas hoje eu sei que a vida não se resume à matéria, ao que vemos aqui neste plano terreno. Nós somos muito apegados a coisas materiais, aos desejos de status, poder, dinheiro. Mas o que fica quando não estivermos mais aqui? Não existe apego maior no mundo do que o amor de uma mãe a um filho e, quando perdemos a chance de trocar com eles nesse plano, somos obrigadas a enxergar as coisas de outro jeito, a dar valor a outras coisas, como estar mais presente, amar mais, nos doar. Eu encontrei muito sentido no trabalho voluntário. Me ensina que o meu sofrimento não é o único sofrimento do mundo, me irmana com as dores dos outros, acho que isso me faz mais humana, me coloca em comunhão com as outras pessoas. Espero que todas as mães que perderam seus filhos tenham força para ressignificar a sua dor e consigam transmutar o amor represado dentro do peito. Porque esse amor é poderoso, é capaz de transformar a ferida em luz, até para fazer um tributo a eles, que tanto nos amaram e nos ensinaram.

Gazeta: Como será o lançamento do livro e onde as pessoas poderão comprá-lo?
Marina: Por enquanto, as vendas estão acontecendo online no site da editora (https://editorareformatorio.com.br/notas-da-mamae-morrente/p) e, a partir da semana que vem, o livro estará fisicamente em algumas livrarias do país. O lançamento vai acontecer no dia 15 de maio, na livraria da Vila do shopping Higienópolis em São Paulo. Em agosto, vamos fazer um lançamento no Rio de Janeiro, e espero organizar um lançamento em Vargem no segundo semestre também.

Serviço:
Notas da Mamãe Morrente, de Marina Lima.
Editora Reformatório/Pasavento
Romance autoficcional, 192 páginas
À venda pelo https://editorareformatorio.com.br/notas-da-mamae-morrente/p

 

 

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