Procurando entender a dimensão de Washington Novaes

O jornalista vargengrandense Washington Novaes faleceu no dia 24 de agosto. Foto: Reprodução TV Cultura

Por Tadeu Fernando Ligabue

Acredito que Washington Novaes gostou de voltar à sua terra natal, onde foi sepultado na tarde de quarta-feira, dia 26 de agosto, no Cemitério da Saudade, junto aos seus. Seu corpo foi velado na Biblioteca Victor Lima Barreto e o local também deve ter-lhe caído no agrado, pois nada para um jornalista como estar entre tantos livros e escritos.

Cercado pelos familiares e por alguns velhos conhecidos e amigos da família, a liturgia das exéquias do seu corpo celebrada pelo padre Paulo Valim Santos foi singela e, durante um bom tempo, ouviu-se o cantar de um sabiá, o que certamente deve ter tido o aplauso do venerado jornalista, tão ao gosto das coisas do meio ambiente, como nossas matas, nossos rios, nossos índios, bichos e aves.

Tive pouco contato com Washington. Não era da minha turma e também estava numa ‘liga’ bem mais à nossa frente, como disse minha filha Lígia. Apenas o admirava pela qualidade de seus trabalhos, por ser jornalista e vargengrandense. Tenho um pouco mais de contato com sua irmã Sílvia Novaes Filipini e sua família. De sua mãe, dona Arlinda, lembro do tanto que era reverenciada como costureira e de algumas vezes que ainda menino e pacoteiro da Pernambucanas, ia lhe entregar algumas encomendas de tecidos na sua casa. Sua sobriedade e postura, sempre me chamaram atenção, desde aquela época.

De seu pai, professor Henrique de Brito Novaes, li e gostei de vários artigos por ele escrito na antiga A Imprensa, de sua luta como político em prol da cidade, da qual foi vereador e por duas vezes presidente da Câmara Municipal, lá pela década de 50. Era muito combativo, pelo que pude perceber em um dos seus artigos referentes à Revolução de 32, onde defendia a causa paulista contra a ditadura de Vargas.

Certamente foi de seu pai que herdou os pendores para o jornalismo e também pelas causas ambientais que tanto o distinguiu no Brasil e no exterior. Sem dúvida foi nosso jornalista de maior expressão e por também atuar nesta área, que me atrevo a escrever estas poucas linhas sobre Washington.

Como todos os jovens promissores de sua época, deixou Vargem Grande do Sul para se aventurar nos grandes centros, em busca de mais formação e estudos. Pelo que depreendi de sua biografia, formou-se em Direito, mas sua grande atuação foi no jornalismo, onde escreveu nos principais jornais do Brasil, como Estadão, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Veja, Última Hora. Na tv, foi editor do Jornal Nacional e do Globo Repórter, foi excepcional documentarista, com o maravilhoso “Xingu, a Terra Mágica”, escreveu livros e ganhou prêmios por sua obra, não só no Brasil, como também em vários países mundo afora.

Olhar sua biografia é tomar dimensão da sua obra, do quanto este vargengrandense fez e foi reconhecido nesta profissão tão nobre que é o jornalismo e que anda tão surrada pelos novos tempos que ecoam no Brasil, principalmente pelo atual ocupante passageiro na presidência da República, que praticamente incita parte da população brasileira contra nós jornalistas, a ponto de declarar ainda esta semana que tinha vontade de encher de porrada a boca de um colega.

Acredito que Washington Novaes incorporava tudo que entendemos ser o futuro do Brasil, como defender o meio ambiente, a liberdade de imprensa, a democracia, e que nestes tempos bicudos são conceitos que contrariam aqueles que querem o retrocesso democrático e a volta do autoritarismo em “terra brasilis”.

Um vargengrandense, que embora não tenha tido uma participação mais atuante nos destinos de Vargem Grande do Sul como seu pai o fez, transcendeu a pequena cidade em que nasceu e deixou um legado maior a todos os brasileiros e quiçá, para o mundo também, pois sua obra certamente encontrou eco além do Atlântico.

Aos vargengrandenses, principalmente aos jovens, fica a dica de entrar um pouco na obra produzida por Washington Novaes, hoje de fácil acesso pela internet e procurar se inspirar no que ele fez e quem sabe, defender as suas causas. São elas tão nobres e tão atuais neste Brasil e mesmo neste planeta Terra, que merecem ser estudadas nas nossas escolas, pelos nossos alunos.

Washington usou toda sua capacidade intelectual para mostrar aos homens o que eles estão fazendo e quais serão as consequências para o futuro do ser humano que hoje se preocupa muito mais com as coisas, com o lucro, do que com as pessoas, como sabiamente nos falou padre Paulo Valim quando da celebração do funeral do jornalista. Produziu uma obra de fôlego, que certamente o coloca no panteão dos vargengrandenses cuja biografia extrapola os limites de nossa pequena cidade e são muito poucos, mas que ajudaram cada um na sua área, a termos um mundo melhor para se viver e neste seara, com certeza Washington Novaes merece um lugar de destaque.

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